segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Aparição

Soube que tu, ò menina
Passarias por aqui certo dia
Assolou-me então o querer
De no tal dia te ver.
Pois decerto não sabes,
O quando eu me preparei,
O quão eu chorei,
E o quanto eu esperei…
Sabe Deus quão lento
Se passou o tempo,
Enquanto eu esperava
Pelo grande momento.
Nunca comigo mesmo
Fui tão acérrimo crítico:
Fartei-me de mim,
Da minha cara, e da minha raça.
Fitava periodicamente o espelho,
Em busca de suaves expressões,
Que me munissem de beleza
Para encarar vossa excelência.
Desejei ser outro ser,
Sem tão vasta consciência,
Onde o vazio de ser tal,
Proporcionaria maior vaidade
Para encarar como igual tal beldade.
Que dava eu nestes dias,
Para ser uma banalidade,
E acabar para sempre
Com esta grande ansiedade.
Tenho medo das flores
Que no jardim vivem alheiamente,
Que medo de mim próprio,
E da melancolia desta mente…
Bom, mas não posso pensar,
Serei prático e espontâneo
Irei dormir no pensar,
Diabo para a rapariga
E para a maldita metafísica.
Tive então durante a noite
Frequentes histerismos mudos,
De tal a ignomínia
Em que eu só me sentia.
Deambulava pela casa
Mas nada resultava,
Sempre este desassossego
Enquanto por ela andava.
Diabo para os semi-deuses
Aqueles espíritos esvaziados
Mas ao menos sossegados.
Sem aparentes motivos
Sempre de si estão seguros
Mas de seu próprio coração
Nunca eles estão cativos.
Claro está, de tão frívolos
Não têm a consciência,
Do que realmente são
O que interessa a condição?
Contudo tais ocos sujeitos
De malévola esperteza
São os que mais têm razão
Para ter consciência.
Cheguei menina, a desejar-te mal
Quando julgava a criatura divinal
Na insensível fossa
Do vazio universal.
Continuava feio,
Timorato e inseguro,
Mas aparecer eu iria,
Isso era absoluto.
Chegado o grande dia,
Nervos absurdos me assolavam
Tantas dores abdominais
Por uma simples rapariga.
Eu apenas queria
Ser amigo do dia
E não ter o receio
De te fazer companhia.
Sai titubeando
Cismando o não sei o quê
E enquanto ia andando
Ia a perguntar porquê.
Por mais que a razão
Me dissesse, que não vale a pena,
Estar neste lúgubre estado
Enegrecia-se-me de novo a alma.
De súbito apareceste, alva, deslumbrante,
Soltando apenas um suave sorriso.

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