sábado, 20 de agosto de 2011

Chegou a Hora!





Perigo no desvanecido horizonte… Hirto medo que adensa o céu de nuvens…
Quimeras que de não existirem existem… Algo na alma a arrepiar minhas irreais penugens…
Talvez seja a influência na inconsciência do Fado… O sabor isolado e absoluto da Hora…
Uma resignação inconformada de ter por força que ir embora…
Abre-se imaterialmente o negro Abismo… Negro de infinito e algo inefável…
Alma inconsequentemente em tormentoso pranto pela chegada da Hora sempre afável…
Puro fantasma no estender vertical do abismo… O Além e o Alguém… É irreconciliável…
Instintivo puxar que impede o inevitável… O Eu-submisso do destino submetido ao doce Fado… Há uma falta de força no recuo do inexorável…
Cómodo desistir louvável em loucos ecos finais… O negro cinge o corpo já…
Reminiscências finais… Suave suspiro… Um torpor no crepúsculo da alma na fronteira do Lá…
A luz ainda jaz lá atrás… Do entorpecimento e do vácuo fronteiro…
Fraco sentir intemporal e onírico… Sono total passado o valo dianteiro…
Noite eterna da alma… O “Não Viver” totalmente independente de mágoa ou pranto…
Adormecida vivência de tudo divorciada… Ausência do espaço e do temido Quando…


sábado, 13 de agosto de 2011

Despedida



Apartas-te gradualmente para um rumo incerto,
As tuas origens abandonas idónea.
A mágoa sufoca-me o espírito uno,
De uma lembrança impropriamente saudosa.

O dia dilui-se num pardo torpor,
O que me acrisola este pungente estado d’alma,
Em que conforto algum pode repor ventura
Face ao nosso separado fado.

Este grave e suave lusco-fusco
Análogo é ao meu estado d’alma,
E o termo deste dia estéril
É também afim a este fim atroz,
Entre nosso laço forte e meninil
Que jaz no crepúsculo deste dia.

Recordo-me agora ao tergiversar,
Da intimidade que entre nós subsistia
Brotava em mim um certo amar, e
Insisti que sem ti não sobrevivia.

Sem o teu grande sorriso radioso
Que faz esquecer a finitude,
Reinará a desesperança
E a crença de que tudo ilude.

Já começo a sentir o coração
A apressar depressa o passo.
Imagino o findado em opressão
E o pranto sai descontrolado.

Volteio de novo em desespero,
Ainda te vejo ao longe indistinta,
És como a manhã que vai longe,
Mas esta voltará ainda…

Adeus… Meu amor, até sempre,
Lembra-te de mim perpetuamente
Criatura da pureza eterna…
Adeus… Meu amor, para sempre…

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

A Torre de Relógio

Do meu usual deserto avisto de rompante,
Uma torre de relógio ingente
Os tambores ressoam nas profundezas
Acompanhando alguma melodia soturna.

Passam então as horas prontamente.
Os ponteiros depressa se movem,
Avista-se então a luz do inexorável destino
Que é a todas as coisas intrínseco.
O som macabro continua a ondear
No âmago da minha alma.
Uma mistura de sons confusos, indistintos
E sepulcrais. Não há vivalma.

Recordo memórias não nítidas
Palavras alheiamente quiméricas,
Tenho a total certeza de que nada sou,
Já nem me valem as estéticas.

Olho absorto para o lado,
Clock, clock, clock, ouve-se sempre os relógios…
E vejo uma árvore formosa,
Uma formosa árvore de bengala,
Uma vara no despido tronco caído.
Também eu um dia terei bengala
E o mundo continuará idêntico

Um canto sacro indistinto e profundo,
Assombra-me com temor o coração.
A vida passará e nada irá deixar
E aplico-me decadente à imaginada sensação.

Aparição

Soube que tu, ò menina
Passarias por aqui certo dia
Assolou-me então o querer
De no tal dia te ver.
Pois decerto não sabes,
O quando eu me preparei,
O quão eu chorei,
E o quanto eu esperei…
Sabe Deus quão lento
Se passou o tempo,
Enquanto eu esperava
Pelo grande momento.
Nunca comigo mesmo
Fui tão acérrimo crítico:
Fartei-me de mim,
Da minha cara, e da minha raça.
Fitava periodicamente o espelho,
Em busca de suaves expressões,
Que me munissem de beleza
Para encarar vossa excelência.
Desejei ser outro ser,
Sem tão vasta consciência,
Onde o vazio de ser tal,
Proporcionaria maior vaidade
Para encarar como igual tal beldade.
Que dava eu nestes dias,
Para ser uma banalidade,
E acabar para sempre
Com esta grande ansiedade.
Tenho medo das flores
Que no jardim vivem alheiamente,
Que medo de mim próprio,
E da melancolia desta mente…
Bom, mas não posso pensar,
Serei prático e espontâneo
Irei dormir no pensar,
Diabo para a rapariga
E para a maldita metafísica.
Tive então durante a noite
Frequentes histerismos mudos,
De tal a ignomínia
Em que eu só me sentia.
Deambulava pela casa
Mas nada resultava,
Sempre este desassossego
Enquanto por ela andava.
Diabo para os semi-deuses
Aqueles espíritos esvaziados
Mas ao menos sossegados.
Sem aparentes motivos
Sempre de si estão seguros
Mas de seu próprio coração
Nunca eles estão cativos.
Claro está, de tão frívolos
Não têm a consciência,
Do que realmente são
O que interessa a condição?
Contudo tais ocos sujeitos
De malévola esperteza
São os que mais têm razão
Para ter consciência.
Cheguei menina, a desejar-te mal
Quando julgava a criatura divinal
Na insensível fossa
Do vazio universal.
Continuava feio,
Timorato e inseguro,
Mas aparecer eu iria,
Isso era absoluto.
Chegado o grande dia,
Nervos absurdos me assolavam
Tantas dores abdominais
Por uma simples rapariga.
Eu apenas queria
Ser amigo do dia
E não ter o receio
De te fazer companhia.
Sai titubeando
Cismando o não sei o quê
E enquanto ia andando
Ia a perguntar porquê.
Por mais que a razão
Me dissesse, que não vale a pena,
Estar neste lúgubre estado
Enegrecia-se-me de novo a alma.
De súbito apareceste, alva, deslumbrante,
Soltando apenas um suave sorriso.

Lado Alvo da Lua

Por vezes é bom sofrer,
Porque aí indago a existência,
Sinto algo constantemente
Uma dor que me não mente.

Assim tenho a certeza,
Que eu sou de facto eu
Pois a dor centraliza
Nossa mais real essência.

Que sentem vós doces plantas?
Sentis a leve aragem que vos agita?
Sentis as gotículas da chuva,
A vos refrescar do quente dia?

Pressinto que vós vos ignorais
Ao não se aperceberem que agitam
Ou que alvos de chuva são
Que é de vosso coração então?

Olho através da janela aberta
Para as belas flores de Abril.
Ah… Um anseio ignoto e indizível…
Por um amor que não seja vão

Nada muda, sempre esta condição
Entre estas ténues existências.

Fanam as flores nada deixando,
Eu também murcharei tal dia,
Arre! Mas eu tenho consciência
E sempre esta maldita dor!

Todavia, embora sofra
Com tão aguçada consciência
Tenho o consolo de saborear
Esta caduca existência!

Cegueira

É um condenado à perpétua negrura,
É um desconhecimento que se afigura,
Uma angústia que se eleva,
De uma prisão sem intuito

Penetra num claro jardim,
Mas o jardim nele não penetra,
Nele, apenas há o aroma do jasmim,
E não o jardim em si…

Outros, contrariamente, tudo vêem
Vêem todas as imagens,
Todos os jardins fitados

Mas na sua néscia presença,
Têm menos imagens e impressões,
Menos vida e jardins,
Mais vazio e negrura…

Headache


Pesa-me a cabeça,
Sinto-a cheia, a extravasar
Doem-me os temporais,
Devia ir descansar…

Poso-a lentamente na cama,
Assim posso relaxar,
Tanta sensação fere,
O melhor é dela olvidar.

Mas, continuamente
Continuam ideias a escorrer,
Experimento uma alegre abstracção,
E conduzo-me ao mesmo em vão…

A dor, que estava largando
Volta e ainda zombando,
Como qualquer rufião,
Vendo o outro em sujeição.

Tanta dúvida, tantos desejos,
Só gostaria de ir sonhar:
Um delicioso descanso
Uma feliz alucinação…

Todo o mundo se me penetra
Estou farto de tanto pensar
Sempre no ermo o asceta
No seu interior a chorar…

E a dor de cabeça,
Parece que veio para ficar,
Não penses ò coração,
Dorme... ò sensação!

Elfos da Floresta...

Caminhando majestosamente, vão os elfos da floresta,
Espíritos imortais percorrendo o anódino tempo,
Em busca de um lúgubre sustento,
Que possa jubilar seu etéreo éden

Fartos da queda luz caminham para a negrura,
Orando risco, morte e sofrimento,
Que lhes esvazie a eterna lassidão
De uma existência saturada, passiva, dada.

Os belos rios, as ingentes árvores de Outono,
As brisas leves e as marmóreas estátuas,
Que são as reminiscências de outras águas,
Nas quais reinam as finitas mágoas,
De quem pelo tempo passa…

E cá estão os elfos, no seu pleno mundo
Sempre guardando o memorial dos homens,
Invejando absurdamente a morte,
E temendo paradoxalmente a vida.

Sempre exilados, radiosos e solenes,
Com suas vestias alvas e divinas,
Erram por errar nos densos bosques,
Soltando um luminoso rastilho:
O Estrelado auxiliador dos olvidados caminhantes.

E seus sumptuosos lares, seus palácios arborizados,
A magia das florestas falantes, a ténue perenidade…
As odes brandas que pairam no ar,
Além da faustosa e plena serenidade,
Inserem algo soturno e subtilmente macabro.

É tudo tão esplêndido, tão perfeito…
Tão divino, tão transcendente, tão absoluto,
Que fatalmente atrai as necessidades metafísicas
Que os homens tanto sentem e tentam satisfazer.

Mas desperta ainda a sensação contrária:
Esta imensidão de verde, esta unificação,
De juventude, a eterna juventude…
Pode criar a náusea da consciência humana,
A angústia de existir numa indiferença perpétua…

Oh, sim…
Voltando à realidade, estes hipotéticos elfos,
Frutos da depravada imaginação humana,
Detêm a imortalidade do corpo e da alma…
E nós, que temos?
A inadaptação às sensatas leis naturais,
E a uma eternidade! A eternidade da indiferença universal!

Tanto faz ao mundo...

Ao mundo tanto faz
Se sou ou não instruído
Se sei quem é Pessoa,
Se cuido como sou constituído.

Posso ter sensibilidade,
Em Deus posso ou não crer
Continuo a ter igual possibilidade
De nesta vida viver.

As mesmas condições se afiguram
A mim ou ao maior néscio,
Mas ele vive o que mais vale
E eu num vale lanço o coração…

Correm os riachos,
Sopra o vento forte,
Tudo isso tem utilidade,
Mas eu não aceito a verdade.

Tanto faz ser inteligente,
Lindo, formoso, ou feio,
Pois a carne é a mesma
E tudo sempre será nada.

Para que tanta vontade e competição
Tanto egoísmo e ambição,
Se não deixam de correr os riachos,
Nem de bater o coração?

O Viajante Solitário...

Sou um viajante solitário,
E vou, cismando pela estrada.
Inúmeros espíritos flutuam,
Em torno da minha alma.

Tudo desejos e necessidade,
Revolta e inconformidade,
Produzidos pela tua figura, menina,
Cuja perfeição me deifica.

Ao ver-te passar galante,
Ciência, chata se torna,
Com suas leis destrutivas,
Da tua essência perene…

Sempre solitário vou,
A devanear no que ontem se passou,
Quando te vi bela, junto ao rio,
E sonhei ver o mundo te fixando,
Ò cândida e alva perfeição.

Jornadeando pelo interior
Da minha alma tremente,
Só encontro o fatal vazio,
Que me assola continuamente.

É certo que não tem fim,
A estrada pela qual eu vim,
Perseguindo o absoluto,
Que não é nada e é tudo…